Com o tema “Transição energética e mudanças climáticas: os desafios na luta popular”, o seminário realizado no dia 22 de outubro, em Santa Rosa, reuniu trabalhadoras, trabalhadores e militantes sociais para discutir os impactos da crise climática e os caminhos para uma transição energética justa e popular. O encontro contou com a presença de Gilberto Cervinski, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), e de lideranças da região, como Tereza Pessoa, do município de Alecrim.
Cervinski destacou que mudar apenas a matriz energética não é suficiente para enfrentar a crise ambiental. Segundo ele, “o problema está no modo de produção capitalista, que é a própria destruição do planeta”. O militante usou como exemplo as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado: “Enquanto empresários lucraram como nunca, quem sofreu foi a classe trabalhadora”, afirmou.
Ele apontou o desmatamento da Amazônia, impulsionado pela expansão da soja e da pecuária, como um dos principais agravantes das mudanças climáticas no Brasil. “Falar em transição energética é enfrentar o poder dos fazendeiros que têm boa parte do Congresso do lado deles. A solução passa pela conscientização e pela luta do povo”, concluiu Cervinski.
A voz dos atingidos
Durante o evento, Tereza Pessoa, integrante da direção coletiva do MAB e moradora de Alecrim, compartilhou sua trajetória de resistência frente aos impactos dos projetos de barragens Garabi e Panambi, além das consequências das mudanças climáticas.
“Somos atingidos por barragens, por enchentes e pela seca. As crises climáticas que vivemos não são naturais, mas fruto da ambição humana, do desmatamento, das queimadas e da degradação causada pela agropecuária e mineração”, afirmou.
Tereza também ressaltou o papel do MAB na organização popular e na solidariedade. “O MAB estava nas enchentes com a cozinha solidária, junto com petroleiros, o MTST e a Cáritas, servindo refeições a quem mais precisava. Somos um movimento de trabalhadores e trabalhadoras que luta por uma sociedade justa e igualitária, sem discriminação e sem amarras partidárias”, destacou.
A dirigente lembrou ainda que, após anos de luta, o movimento conseguiu barrar o avanço dos projetos Garabi e Panambi, garantindo a preservação do trecho livre do rio. “Provamos que é possível desenvolver nossa região com dignidade, sem barragens, com produção agroecológica e tecnologias sociais que melhoram a vida do povo”, disse.
Entre as conquistas recentes, Tereza mencionou o projeto de quintais produtivos e energia solar, fruto da parceria entre o MAB e a Fundação Banco do Brasil, que será implementado em Alecrim, Porto Lucena e Roque Gonzales. “Essas conquistas são fruto de muita luta e organização. Para continuar avançando, precisamos seguir mobilizados”, afirmou.
Rumo à Cúpula dos Povos
O seminário também serviu como preparação para a Cúpula dos Povos, que será realizada em novembro, em Belém (PA), em paralelo à COP 30. O encontro reunirá movimentos populares de todo o país para levar ao debate internacional a visão dos atingidos por barragens e das comunidades mais afetadas pela crise climática.
Durante a atividade, o MAB apresentou a Plataforma Operária e Camponesa da Água e Energia, documento que defende uma transição energética guiada pelos interesses da classe trabalhadora, com soberania nacional, controle popular e redistribuição da riqueza.
Entre as propostas estão a reestatização da Eletrobras e da BR Distribuidora, o investimento em fontes de energia de baixo impacto social e ambiental, o fortalecimento de programas como o Luz para Todos, e a criação de políticas públicas que garantam acesso à energia como um direito, e não como mercadoria.
O texto reafirma que a transição energética justa e popular depende da organização e mobilização da classe trabalhadora, articulando a luta por soberania energética, alimentar e cultural. “Água para a vida, e não para a morte!” — foi a palavra de ordem que encerrou o seminário, simbolizando a resistência popular e o compromisso com um futuro sustentável e solidário.