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Caixa | 30/10/2025
Há 40 anos, greve das 6 horas da Caixa marcou a luta dos bancários por dignidade e direitos

No dia 30 de outubro de 1985, os empregados da Caixa Econômica Federal protagonizaram um dos capítulos mais marcantes da história do movimento sindical bancário brasileiro. A greve nacional da Caixa, que completa 40 anos em 2025, foi um divisor de águas na luta por direitos, condições dignas de trabalho e pelo reconhecimento da categoria como parte essencial do serviço público e do sistema financeiro nacional.

O Brasil vivia a transição democrática, após duas décadas de ditadura militar (1964–1985), em meio a um cenário de forte mobilização social e sindical. Dentro da Caixa, os trabalhadores, ainda chamados de economiários, cumpriam jornada de oito horas diárias, diferente dos demais bancários, e não tinham direito à livre sindicalização. Além disso, a década de 1980 foi marcada por desigualdades salariais e falta de isonomia entre os empregados, o que acirrou tensões internas e fortaleceu o movimento por mudanças.

A mobilização nacional e a força da união

A mobilização começou a ganhar corpo em 1984, com protestos e paralisações em diversos estados. A insatisfação cresceu diante das tentativas de repressão e das demissões de trabalhadores engajados, mas também consolidou um sentimento de unidade entre as associações regionais e lideranças sindicais.
As reivindicações eram claras: redução da jornada para seis horas diárias, reconhecimento dos empregados da Caixa como bancários, com os mesmos direitos da categoria, e o direito à sindicalização plena.

No dia 30 de outubro de 1985, o movimento chegou ao ápice: agências e unidades da Caixa em todo o país pararam por 24 horas. A data, aprovada no 1º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa (Conecef), em Brasília, contou com ampla participação das associações e da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), que tiveram papel fundamental na articulação nacional.

A trabalhadora da Caixa e dirigente do SindBancários, Maristela Rocha, recorda o contexto político e a força da mobilização.“A greve dos empregados da Caixa que ocorreu em 30 de outubro de 1985 foi no período de transição da ditadura militar para a redemocratização do Brasil. Nossa reivindicação era para sermos reconhecidos como bancários e ter direito à sindicalização. Na época, éramos economiários e trabalhávamos oito horas”, recorda Maristela. A dirigente destaca a surpresa com a adesão em massa dos colegas. “Foi uma surpresa quando fizemos a greve porque todos os empregados aderiram à paralisação. As luzes dentro das agências estavam apagadas e, em um dia, conseguimos esse direito. Desde cedo fiquei ciente de que somente com a nossa unidade teríamos condições de avançar e conquistar mais direitos”, destaca Maristela Rocha.

O funcionário da Caixa há 50 anos, Everton Araújo Pires, relembra com emoção o clima de mobilização que tomou conta do centro de Porto Alegre durante a greve.“Eu lembro que todas as agências do centro foram fechadas. Os colegas de outras unidades vieram para cá, e fizemos uma grande concentração na Praça da Alfândega”, lembrou Everton.
O trabalhador recorda detalhes simbólicos que marcaram aquele dia histórico. “Na entrada do prédio, pelo lado da Rua Sete de Setembro, fizemos uma bandeira do Brasil com flores. Logo adiante, no corredor, espalhamos polvilho desenhando o número 6 no centro, em referência à jornada de seis horas. A ideia era que quem furasse a greve teria que pisar na bandeira, deixando um rastro de pegadas brancas”, explicou. A mobilização ganhou ainda mais força ao longo do dia. “Nas primeiras horas da tarde, fizemos uma passeata pelas ruas do centro, gritando palavras de ordem pela redução da jornada e pelo direito à sindicalização”, contou Everton.

Ele lembra também do entusiasmo que tomou conta da categoria após a conquista.“Assim que a lei foi aprovada, houve uma verdadeira corrida ao sindicato para preencher as fichas de associação. Foi um momento de euforia, de conquista e de pertencimento”, relatou Everton, que hoje é delegado sindical.

Outro protagonista da história, Devanir Camargo, 74 anos, que trabalhou mais de 41 anos na Caixa, foi delegado sindical e presidente do SindBancários entre 2002 e 2005. Ele relembra com clareza a força da greve de 1985. “Na greve de 1985, nós, empregados da Caixa, nos envolvemos na luta pela conquista da jornada de seis horas. Foi a maior mobilização nacional dos empregados da Caixa Econômica Federal. No Brasil inteiro, a Caixa parou”, afirmou Devanir.

O ex-dirigente sindical recorda ainda que a mobilização teve raízes na identidade profissional que os trabalhadores queriam afirmar. “Muitos de nós começamos a não aceitar essa denominação, porque sabíamos que éramos trabalhadores bancários e que a luta teria de ser pela jornada de seis horas. Por isso, fomos em frente”, explicou.

Segundo Devanir, o legado deixado foi demarcar um terreno de luta da categoria dos trabalhadores bancários e engrossar as lutas com as demais categorias por melhores condições de trabalho e salário.

Conquistas históricas e o legado da greve de 1985

A mobilização de 1985 resultou em conquistas históricas. O Projeto de Lei nº 4.111-4, que reduziu a jornada para seis horas diárias, foi aprovado pelo Congresso e sancionado em 17 de dezembro de 1985. No dia seguinte, o Diário Oficial da União publicou a garantia do direito à sindicalização dos empregados da Caixa, com a alteração do artigo 556 da CLT.
A jornada reduzida entrou em vigor em 1º de janeiro de 1987, consolidando uma das vitórias mais emblemáticas do funcionalismo público bancário. O então presidente do SindBancários, José Fortunati, relembra aquele período como um marco de aprendizado e resistência. “Para mim, um grande momento, fantástico, de que me orgulho muito. A questão da greve de 85, mesmo com todas as debilidades, tanto a greve geral quanto a dos economiários, para mim foi marcante”, recordou Fortunati.

Ele também destacou que a força daquela mobilização teve raízes em um longo processo de resistência que vinha desde os anos de repressão.“Compreendendo, inclusive, melhor o que era aquele momento de exceção da ditadura. A greve de 79 desnudou isso de forma muito clara. E me deixou a percepção de que a luta pela democracia era o passo número 1 que eu deveria participar”, explicou.

A greve da Caixa de 1985 consolidou a identidade coletiva dos empregados, abriu caminho para novas conquistas e reafirmou o papel do movimento sindical como força de transformação social.

Quarenta anos depois, essa luta segue viva na memória e na prática dos trabalhadores. Mais do que uma lembrança histórica, o 30 de outubro é um símbolo da força da união e da consciência coletiva, um lembrete de que cada direito conquistado nasceu da mobilização e da solidariedade entre os bancários.

Hoje, o movimento sindical bancário continua firme nessa trajetória, defendendo o papel público da Caixa, a valorização de seus empregados e a manutenção das conquistas históricas obtidas com luta e perseverança.

 

Foto? Fenae

Jornalista/Fonte

Dijair Brilhantes/ SindBancários

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