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Justiça do Trabalho | 28/07/2021
Demissões e práticas antissindicais condenam Santander em R$ 50 milhões

O Santander não aprende. Desde março de 2020, dirigentes de todo o país em mesas de negociação avisam e reivindicam um compromisso assinado do banco espanhol de não demitir durante a pandemia. O banco chegou a dar a palavra, mas não cumpriu.

E o que aconteceu? A Justiça do Trabalho de São Paulo reparou o prejuízo que o Santander deixou na vida de muitas famílias de colegas demitidos desde que pandemia de Covid-19 começou.

Em ação movida pela Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o Santander foi condenado em R$ 50 milhões por demissões durante a pandemia. A condenação também ocorreu por ataques aos participantes dos planos Cabesp e Banesprev, além de perseguição aos dirigentes sindicais. A decisão é considerada inédita na história da Justiça do Trabalho de São Paulo.

Não faltou dirigente que avisasse. Pois o banco que lucrou R$ 13,8 bilhões em 2020, com o trabalho dedicado de tantos colegas no país, se desdobrando para fazer negócios durante uma das piores crise econômicas e sociais na história mundial eliminou, no Brasil, 3.220 postos de trabalho no ano, mesmo tendo assumido compromisso com o movimento sindical de não demitir durante a pandemia.

Diante das demissões e da recusa do Santander em abrir processo negocial coletivo visando evitar essas dispensas, e pela prática reiterada e condutas antissindicais, o Sindicato dos Bancários de São Paulo ingressou com ação na Justiça do Trabalho do Estado de São Paulo para responsabilizar o banco. A decisão tem repercussão em t todo o país

O secretário executivo do SindBancários e funcionário do Santander, Luiz Cassemiro, lembrou da “pandemia” de desempregados no Brasil que já atinge 14,8 milhões de trabalhadores, dos quase 600 mil mortos pelo descaso do governo federal e incluiu o Santander como um dos responsáveis por ampliar as dificuldades.

“Infelizmente o Santander tem tomado ações unilaterais, levando grandes prejuízos aos seus trabalhadores, descumprindo inclusive acordos assinados. Demitiu milhares de trabalhadores em plena pandemia fazendo um grande desserviço social ao aumentar o número de desempregados no Brasil”, pontuou o dirigente.

Cassemiro acrescentou o efeito que as demissões ocasionaram na vida dos colegas que mantiveram o trabalho presencial nas agências do banco em todo o país.

“Estes cortes geram grande sobrecarga de trabalho para os poucos colegas que ficam dentro das agências. Vale ressaltar que o Brasil representa o maior do lucro global do banco, chegando a 29%. Os trabalhadores do Santander merecem mais respeito”, salientou.

Ademais, o dirigente lamentou a postura do Santander. “É lamentável a postura que o Santander diante dos seus trabalhadores no Brasil ao ponto de adotar práticas discriminatórias e perseguição em relação aos dirigentes sindicais. Esperamos que esta decisão sirva de exemplo não só para o Santander, mas também para os demais bancos”, concluiu Cassemiro.

Prática antissindical

A sentença também levou em consideração prática antissindical caracterizada pelo corte de 55% do salário de mais de 40 dirigentes sindicais bancários, cipeiros e trabalhadores em estabilidade provisória que ingressaram com ações judiciais de sétima e oitava horas.

“Seguindo a análise da conduta antissindical do réu, constato que a prática discriminatória em relação aos dirigentes sindicais se mostra ainda mais nítida diante do descomissionamento simultâneo dessas pessoas empregadas do réu, em plena crise sanitária resultante da COVID-19, mesmo que, em relação a algumas dessas pessoas, ainda não tivesse havido sequer trânsito em julgado. É indubitável que o réu sabia que tal ato reduziria consideravelmente as verbas alimentares inerentes à subsistência digna dessas pessoas empregadas e dirigentes sindicais e, ainda assim, mesmo (…) tendo lucrado R$ 13,849 bilhões em 2020, (…), não se eximiu de praticar tal ato.

Juiz que proferiu sentença criticou demissões durante a pandemia

A sentença foi publicada nesta quarta-feira 28. “Um volume tão elevado de despedidas num momento de incertezas e medo, em que se fez necessário severo distanciamento para evitar a proliferação do vírus e quando os empregados não poderiam se reunir com o autor [Sindicato], revela (…), no mínimo, uma indisposição do empregador ao exercício da defesa de direitos das pessoas trabalhadoras através da atuação sindical”, escreveu na decisão o juiz Jeronimo Azambuja Franco Neto, da 60ª Vara do Trabalho de São Paulo.

Na sentença, o magistrado ressaltou que o Santander declarou não possuir nenhum interesse em conciliação, mesmo após ter sido convidado para a primeira proposta conciliatória pela Justiça.

“Nada mais notório que vivemos em um país de extrema desigualdade (7º lugar como mais desigual, segundo a PNUD) e de cínica violência (1º lugar em taxa de homicídios por armas de fogo, segundo a Pesquisa Global de Mortalidade por Armas de Fogo do Instituto de métricas e avaliação em saúde.”

Cabesp e Banesprev

A ação foi movida também devido a mudanças unilaterais promovidas pelo Santander na Cabesp e no Banesprev que prejudicaram os participantes.

O magistrado concluiu que houve proposta de reestruturação do Banesprev e Cabesp e descumprimento do termo de compromisso firmado entre as partes, “por não ter sido sequer convidado o autor [Sindicato] para participar do grupo de trabalho instituído pelo réu [Santander]. Está caracterizada, mais uma vez, a prática de ato caracterizador de conduta antissindical por parte do réu”.

“Meros 1% do lucro durante crise sanitária e agravamento das condições sociais”

A sentença enfatiza o lucro astronômico do Santander mesmo em meio a uma crise sanitária e social causada pela pandemia, que superou os 5 bilhões nos primeiros seis meses de 2020 e R$ 13 bilhões nos 12 meses encerrados em dezembro último.

“Se, no cálculo indenizatório aplicarmos o módico percentual de 1% sobre o lucro líquido do primeiro semestre de 2020, chegamos ao valor de R$ 50 milhões. Tal valor, quando lido em termos absolutos parece superestimado, porém, é necessário ter em consideração o fato de que em num período de crise sanitária e aumento da miséria no Brasil a instituição bancária teve lucro recorde e o valor de R$ 50 milhões corresponde a meros 1% desse lucro líquido em apenas um semestre durante ano de crise sanitária e agravamento das condições sociais brasileiras”, escreveu o juiz Jeronimo Franco Neto.

Para fundamentar sua sentença, o magistrado citou, ainda, a Declaração Universal segundo a qual, todos os seres humanos “devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.

“Corolário disso, tal Declaração refere que ‘todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei’ (art. 8º). Nesse sentido, é devida a indenização por danos morais coletivos a fim de dar concretude ao remédio efetivo em face da conduta antissindical do réu”, afirmou o juiz Jeronimo Franco Neto.

A coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados do Santander e diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo Lucimara ressalta o caráter histórico e inédito da sentença. “Que esta decisão sirva de exemplo não só para o Santander, mas para todos os bancos. E o sindicato espera que, com esta sentença, o Santander volte a negociar e a levar a sério o processo negocial com o movimento sindical. Que o banco traga propostas e soluções para os problemas dos trabalhadores, e que cumpra com os dispositivos legais e com as convenções internacionais que o obriguem a respeitar negociação coletiva, ao invés de simplesmente cumprir agenda.”

O Santander pode recorrer da decisão.

“Com certeza é uma decisão paradigmática na Justiça do Trabalho. As provas produzidas nos autos não deixaram dúvidas a respeito da práticas ilegais do Santander contra os bancários, o movimento sindical e os participantes da AFUBESP e BANESPREV. Lembrando ainda da valorosa contribuição do Ministério Público do Trabalho com parecer favorável à condenação do banco”, disse o advogado Eduardo Antonio Bossolan, da Crivelli Advogados Associados, escritório que conduz o processo pelo Sindicato.

 

Fonte: SEEB SP, com edição de Imprensa SindBancários

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